Passeando por ruas e teatros , entro em uma ante sala com um caixão iluminado brandamente por duas velas ,caprichosamente derretidas em formas iguais, dois castiçais que lembram um tempo barroco ou rococó , debruçada no caixão uma mulher de idade mediana , que ao olhar me fala tudo que viveu até aquele momento. Sou tomado pela surpresa do momento, não entendo muito bem tudo aquilo, tento somar... o caixão, a mulher, as velas, o local, e o resultado nada mais é que minha vida, meus nascimentos e minhas mortes, a mulher chora minha morte , configurada ali na minha frente. Sou convidado a entrar em uma outra sala , entro e sento em uma cadeira medianamente confortável. Percebo que estou no teatro, e tenho medo do que verei , será que vou ver minha vida ante os meus olhos, a música recorrente é forte,marcante e remete a idéia do passado; o medo aumenta.
A cortina abre um grande véu separa os atores do público, a idéia da névoa é bem clara... no decorrer da próxima hora viajo na loucura do “eu” não só o meu eu , mas o eu humano, descabido,visceral, marcado de sangue e loucura. As personagens falam delas ou de mim? Sua dupla personalidade, seus medos e loucuras tão evidentes , afirmam meus medos , meus medos coletivos, a dança que permeia o espetáculo me mostra a leveza de tudo no caminhar , a apunhalada nas costas não mostrada , me lembra tudo que o humano deve passar. Esse tempo entre a apunhalada e a percepção da morte me deixa atônito, perturbado, confuso e perplexo. Em dado momento monta-se um cemitério no palco, e me vejo no velório , meu velório. O véu despenca e junto leva a proteção que existia, minha ultima proteção de acreditar que tudo era só teatro, então descubro que tudo é real. Mais que Brecht .
A peça acaba , não sei mais o que pensar , estou estático, sou tomado pela mão, um anjo me leva, me guia para fora do mundo que me embebe. Não sei se quero pensar que tudo foi só uma encenação ou se na verdade tudo que vi fala de mim, ou de nós. Saio escutando a valsa nº 6.
2 comentários:
Conto maravilhoso, me fez recordar o Érico Veríssimo, ele sempre deixa o leitor sempre na dúvida se é real ou fantasia o que se ler, como aconteceu em vários momentos do seu conto, acho isso simplesmente fantástico.
Bjo
obrigado karen.....
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