13 agosto, 2010

Microconto da vida inventada

Microconto da vida inventada
Esse conto que agora escrevo, não diz respeito a nenhum indivíduo existente em particular, nenhum pensamento específico, é apenas um conto sobre a vida inventada com seus sabores e dissabores. Ao ler o Microconto você ouvirá alguma bela música de Edith Piaf, que sempre é recorrente.
Três personagens compõem esta história, de um dia simples, do cotidiano simples de uma cidade simples. Vidas simples que confluem no tempo da complexidade da existência.
A primeira personagem Aline, sempre alegre, sorridente, centrada, analítica e cartesiana, cabelos longos coloridos naturalmente, pele bronzeada. Dotada de sexy movimento sempre provoca o olhar de homens e mulheres. Mostra força em sua encantadora simplicidade e harmonia musical.
A segunda, Madona, um tango de mulher, madura e sensual, sempre quente com leves arrepios do frio provocado pelo toque audaz. Olhar apaixonado pela vida, fala contínua de energia, média estatura, cabelos marcantes, boca desenhada com lápis de renascimento.
Por fim, Teobaldo, leitor assíduo de qualquer coisa, livros, revistas, cartas, bulas. pseudo-poeta. Pele branca, morbidamente clara, olhar profundo, sabedor de coisas profundamente inúteis, sempre preparado para pensar sobre o tudo ou o nada e não chegar nunca a nenhuma conclusão que não seja a própria óbvia conclusão.
Local do encontro é a Rua do caminho lento, calcada infinita de pedras aparentes que guardam os passos filosóficos de uma noite comum. Pessoas comuns compõem a paisagem, com musicas melancólicas de meio tom misturadas com sons de qualquer cidade comum.
Teobaldo, Aline e Madona caminham sem saber muito bem para onde vão, e falam sobre os seres, especificamente os seres humanos e sua condição nada humana.
“Estou triste... triste com tudo... triste com a existência do nada!” fala Madona, que é interrompida por Aline, “tente ver tudo de outra maneira, energias, energias confluem, fluxos contínuos energéticos.” Madona pensa e com cara de quem não acredita em nada além do que quer acreditar retruca “quero apenas a loucura simples de uma vida com alguém que me seja interessante, nada complicado, apenas boas conversas, sexo e verdades...” suspira... Teobaldo pensa e fala baixo “conversas, sexo e verdade... complicado... quase impossível!”, Madona ouve e fala em tom bucólico “estou cansada de garotos, chicletes, TV e Mc Donalds. Quero vinhos, vinhos nobres envelhecidos, marcantes, inebriantes.”.
Aline reclama que também deseja um homem, lindo, gostoso, sincero, educado, carinhoso, inteligente, audaz porem sutil, Teobaldo fala que se ela encontrar algum ele também quer um. Todos riem.
Após os risos, longo silêncio...o que todos pensam?
Teobaldo pensa que Madona deve entregar-se a vida, esquecer as definições sociais, Pensa que Aline também deveria fazer o mesmo e abandonar as paredes conceituais tão evidentes.
Aline pensa que Teobaldo é louco por falar de amigos, sexo, filosofia e drogas de uma maneira tão simples como uma receita de preparar o nada , pensa que Madona deve abrir o mundo e esquecer seus medos e auto-definições .
Madona pensa que Aline deveria mergulhar no sexo casual e descomprometido, pois vê que ela é linda, jovem e inteligente, Pensa que Teobaldo é o homem que não existe de uma maneira real, que só existe quando ela acredita que ele é esse homem, existente apenas ao seu olhar.
Todos pensam e riem como se soubessem o que os outros pensam de si, voltam a conversar sobre sonhos, e se perguntam quais seriam seus sonhos nesse momento. Todos em novo silêncio pensam resumidos ao seu infinito particular.
Madona sonha... Sonha e imagens se formam em sua mente. Homem de meia idade com ar e perfil de um clássico estereótipo Francês, a toma nos braços, fala sobre o tempo de espera para estarem juntos, fala aos sussurros que esse foi o tempo necessário para que ele pudesse ser por completo ela.
Aline sonha... Sonho com meia luz ,closes , corpos entrelaçados, braços,pernas,seios,mãos agarram firmemente o lençol do colchão .Suspiros ofegantes, puro sexo e desejo não explicito , apenas subentendido.
Teobaldo sonha... Quarto com mulheres, quarto cheio de livros, Nietzsche , Kant, Schopenhauer, Camus , dentre outros , livros ,um mar de livros onde o seu pensamento navega a deriva , folhas de livros arrancadas para serem fumadas , assimiladas com ervas de sabedoria psicodélica.
Todos riem.
Teobaldo toma sua cerveja sem álcool, não pode ingerir álcool porque toma vários remédios de tarja pretíssima para sua possível depressão , possível tensão e possível agressividade nunca vista. Madona toma coca diet, porque tomar coca normal é para os normais e ela como uma mulher libertada mentalmente,não se considera normal. Aline fala,filosofa,discorre pensamentos sobre a vida ... “isso eu faria” , “isso eu nunca faria”, “pode ser”, “assim não pode ser”, sempre firme em seus pensamentos.
Todos riem.
Falam sobre livros,homens,mulheres,sexo,amigos,filmes,encontros,festas,atitudes,sociedade de consumo,negações,fetiches,desejos,revoluções ...chegam a conclusão que precisam viver rápido! Agora! “esse é o momento”fala Madona, apoiada por Aline que exclama “não podemos esperar, a vida urge , nos espera” ,Teobaldo completa “porque esperar? Vamos construir nossas poesias ,quadros, musicas, ser imortal” .
Todos então param, pensam sobre o que falam ,contemplam estáticos o céu simples,da rua simples , na noite simples.Fecham os olhos e pensam como tudo seria bom se tudo não fosse apenas um conto, o conto da vida inventada.
Dormem...

Um comentário:

Anônimo disse...

hahaha mt bom, fuderoso!!